[#7] Fim do 1º quarter: o trimestre do VC no Brasil em dados 🎲
QUINTA-FEIRA • 06 de abril de 2023
Parem a inteligência artificial! É o que pedem Elon Musk, Stephen Wozniak e outras centenas de luminares em uma carta divulgada na semana passada. De acordo com o documento, os sistemas de IA avançados podem representar uma ameaça para a humanidade e deveriam ser planejados com cautela. O temor é de que a ferramenta atinja a “singularidade”, conceito formulado na década de 50 e que descreve um estado em que a tecnologia obtém autonomia de pensamento.
Assim é que o texto apela para que os laboratórios de inteligência artificial suspendam o desenvolvimento de techs de IA mais poderosas do que o GPT-4, da startup americana OpenAI (a mesma do ChatGPT), até que se tenha a certeza de que os seus riscos sejam administráveis. Os autores ainda recomendam que os governos instituam uma “moratória” em pesquisas da tecnologia caso não seja possível controlar a suspensão voluntariamente.
Será o fim da nossa espécie? 😱
Bom dia!
Esta é a sua News de Venture Capital hoje:
O VC em dados: investimentos de risco no 1°TRI são os menores dos últimos anos no Brasil
Empréstimos e demissões: as alternativas à falta de capital no mercado tech brasileiro
Rodrigo Cartolano: gestor do Vale do Silício comenta os números do VC no 1T'23
Leia em 3min56
O VC em dados
Como já apontado em edições anteriores desta news, o ano de 2023 não está sendo dos melhores para o mercado brasileiro de novas tecnologias. Nesse primeiro trimestre, foram investidos US$ 247 milhões em startups nacionais por meio de 91 acordos assinados (deals), os valores mais baixos vistos no nosso ecossistema nos últimos anos para o período (gráfico).
Ocorre que os fatores responsáveis pela desaceleração dos investimentos em 2022 (inflação e juros altos) continuam a influenciar o desempenho da nossa indústria tech agora em 2023. O último boletim Focus divulgado pelo Banco Central aponta para uma Selic de 12,75% em dezembro. O mesmo relatório projeta a inflação em 5,96% no final deste ano.
Nos países ocidentais, o panorama econômico é igualmente desafiador. O Federal Reserve (Fed) e os bancos centrais da Europa também têm elevado as taxas de juros para combater a inflação e indicaram que 2023 seria um ano de baixo crescimento econômico. Para ficar em apenas um exemplo, o Banco da Inglaterra (BoE) subiu o custo dos empréstimos pela décima primeira vez consecutiva nesse mês de março, em uma sequência de pequenos acréscimos percentuais que teve início dois anos atrás. Como boa parte das casas de venture capital que investem no Brasil são estrangeiras, essas expectativas de desaceleração nas economias lá de fora impactam diretamente o nosso mercado tech.
Contra a falta de capital, empréstimos e lay-offs
A escassez de capital de risco no mercado brasileiro de novas tecnologias ficou mais uma vez evidente com a pesquisa conduzida pelo Distrito para o Venture Capital Report 1T’2023. Com a consolidação dos dados de março, o primeiro trimestre deste ano chegou ao fim com uma queda de 86% nos valores aplicados em startups nacionais em comparação com o mesmo período do ano passado. No 1T’22, as nossas techs arrecadaram US$ 1,7 bilhão em investimentos; neste 1T’23, foram apenas US$ 247 milhões.
Apesar do cenário de crise, Gustavo Gierun, CEO do Distrito, aponta para o fato de que os empreendedores estão começando a buscar fontes de financiamento alternativas: “Os dados [do Report] mostram mais founders incrementando seus caixas com operações de dívida e com estruturação de M&As. Essa tendência já aparecia no fim de 2022 e continuou em expansão neste trimestre. São números que acabam mostrando a resiliência das startups em um momento de instabilidade que muitas delas não haviam vivenciado.”
De acordo com Gierun, esse movimento tem pontos positivos e negativos para o mercado. Entre os benefícios para quem busca financiamento via dívida (ou venture debt), estão a ampliação dos fluxos de caixa sem diluição do captable e proteção contra um possível downround. Por outro lado, levantar capital por meio de crédito exige diligência financeira do empreendedor. Como ocorre com todo empréstimo, a dívida precisará começar a ser paga de imediato, e com juros. Uma startup comprometida com débito pode acabar enfrentando dificuldades de crescimento, o que a torna menos atrativa para os fundos de venture capital.
Por fim, outra alternativa que os nossos líderes tech encontraram para contornar a falta de dinheiro foram as demissões, que desde o começo do ano passado tiram o sono dos colaboradores das startups. Neste primeiro trimestre, as bilionárias iFood, 99, Rappi e Loft já anunciaram cortes em massa no quadro de funcionários. Levando em conta que 2023 não será um ano de abundância de capital para as empresas de tecnologia, esses lay-offs deverão continuar dando as caras nos noticiários ao longo dos próximos meses.
Rodrigo Cartolano
O ONEVC é uma companhia gestora de venture capital com base no Vale do Silício e que investe em startups early-stage nos Estados Unidos e na América Latina. Entre as empresas apoiadas pela casa, estão a Loggi (série D) e o Rappi (séries A, B e C).
Rodrigo Cartolano é sócio do ONEVC e falou ao Distrito sobre os números desse primeiro trimestre de 2023:
Recentemente, a quebra do Silicon Valley Bank afetou mercados de tecnologia no mundo todo. Qual o impacto desse evento sobre as startups brasileiras?
Os eventos relacionados ao Silicon Valley Bank trouxeram lições muito importantes para o ecossistema. Desde questões mais táticas e objetivas — como a importância de diversificar a dependência de provedores — até as mais filosóficas, como a velocidade com que uma instituição sólida pode ruir hoje em dia, em grande parte por uma crise de confiança do mercado.
O impacto mais imediato será sem dúvidas uma preocupação maior com planos de contingência e redundância. Não apenas relacionados à parte financeira, mas também à segurança da informação, sistemas, dados e como se prevenir contra eventos inesperados como esse.
Apesar da cobertura e garantia anunciadas pelo FDIC e FED terem sido importantes e decisivas para as startups que tinham capital lá, as implicações de longo prazo para a indústria ainda são difíceis de estimar e podem ter efeitos na economia como um todo.
Diante dos números do primeiro trimestre no mercado de tecnologia, o ONEVC alterou sua estratégia para o ano de 2023? Se sim, quais foram os ajustes e como a casa passou a avaliar as novas oportunidades de investimento?
Nós sempre tivemos uma preferência por modelos de negócio sustentáveis, e essa estratégia vem se provando acertada. Nosso processo de investimento segue inalterado; já fizemos dois investimentos esse ano. O que mudou é o tempo médio de avaliação — ao longo dos últimos dois anos, o mercado esteve muito competitivo e, muitas vezes, os empreendedores rodavam processos em que queriam respostas muito rápidas. Tomamos a decisão de não investir em algumas companhias no passado pois sentimos que não tivemos tempo de conhecer o time e o negócio de forma que nos desse o conforto de que havíamos feito a lição de casa. Agora a dinâmica foi ajustada — nos dois investimentos que fizemos, tomamos o tempo necessário para ambos os lados se conhecerem mais profundamente, como deve ser.
Como um VC early-stage, é muito difícil tentar acertar o timing do mercado. Não nos arriscamos a tentar e, portanto, mantemos o nosso ritmo de investimento padrão, investindo cada fundo em um horizonte longo de três a quatro anos. Sabemos que existe uma descorrelação enorme entre o momento de mercado em que a companhia foi criada e seu sucesso ou não nos anos seguintes. Em alguns dos anos mais difíceis para a economia, como a bolha das pontocom no início de 2.000 ou a crise financeira de 2009, surgiram algumas das companhias mais disruptivas do mercado, como Airbnb, WhatsApp, Uber e Instagram.
Essa entrevista completa está no Venture Capital Report 1T’2023 e pode ser acessada pelos membros assinantes da plataforma do Distrito
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