[#3] Como a Índia está se tornando um templo do VC mundial 🧘
QUINTA-FEIRA • 9 de fevereiro de 2023
Quem nunca entrou em uma reunião pelo Zoom? Pois a companhia do Vale do Silício anunciou que está cortando 15% do seu quadro de funcionários, cerca de 1,3 mil “zoomies”.
Em um texto no blog da própria empresa, o CEO Eric S. Yuan admitiu que não analisou com cuidado se o Zoom estava crescendo de maneira sustentável ao longo da pandemia, quando a demanda disparou e sua equipe triplicou de tamanho. Yuan também informou que irá reduzir o seu salário em 98% e renunciar a todos os seus bônus corporativos em 2023.
Segundo a agência Reuters, após a notícia das demissões, as ações do Zoom subiram 9% — depois de terem caído 63% em 2022.
Não tá fácil pra ninguém.
Bom dia!
Esta é a sua News de Venture Capital hoje:
O VC em dados: janeiro fecha com apenas US$ 96 mi em investimentos de risco
Índia: como o país está se destacando no mercado de tecnologia global
Case: Uni Card faz sucesso na Índia com versão digital do crediário brasileiro
Leia em 3min21
O VC em dados
O ano não começou muito empolgante para a indústria brasileira de venture capital. Em janeiro, foram investidos US$ 96,6 milhões em nossas startups, o menor valor para o mês desde 2018 (gráfico).
O número de acordos assinados (deals) nos primeiros trinta dias deste ano também foi raso — apenas 25, o mais baixo desde que o Distrito começou a registrar as transações do nosso ecossistema de inovação, em 2014. Na verdade, quase metade dos US$ 96,6 milhões atingidos mês passado foram arrecadados por uma única startup, a Órigo Energia. Entre as apostas do Distrito para se tornar unicórnio neste ano, a Órigo acaba de concluir uma rodada de série D de US$ 45 milhões para expandir a sua oferta de energia solar por assinatura a residências e empresas de todo o Brasil. Até 2025, a empresa planeja investir R$ 4 bilhões em fazendas solares para levar energia a mais de 500 mil clientes.
A Índia rumo ao topo do mercado de tecnologia global
Uma nova potência do venture capital global está surgindo no sul da Ásia. Estamos falando da Índia, cujas empresas de tecnologia receberam US$ 41,4 bilhões em investimentos de risco em 2021, o quádruplo do visto no Brasil no mesmo período (Tracxn). Essa proporção se manteve idêntica em 2022, quando as startups do subcontinente asiático arrecadaram perto de US$ 20 bilhões em equity financing.
De maneira similar ao que ocorreu em nosso país, o número de indianos com acesso à internet mais do que dobrou entre 2018 e 2020 (Banco Mundial). A digitalização abrupta da economia da região abriu um mar de oportunidades para o empreendedorismo de inovação, principalmente na indústria das finanças (leia o case abaixo). Só no setor de pagamentos online, já são movimentados cerca de US$ 135 bilhões por mês através do Unified Payments Interface (UPI), sistema de transações em tempo real equivalente ao nosso Pix.
Em 2022, algumas das maiores companhias gestoras de capital de risco do mundo arrecadaram fundos para apostar no emergente mercado tech indiano. A Sequoia lançou um de US$ 2 bilhões, e a Accel fechou outro de US$ 500 milhões. A firma local Fireside Ventures, de Bangalore, também concluiu um de US$ 225 milhões. Em 2023, a tendência é que esses caixas derramem uma boa quantidade de dinheiro nas tecno-empresas hindus.
Ano passado, quando ecossistemas de inovação do mundo todo observaram uma queda no surgimento de novos unicórnios, a Índia aumentou sua participação no panteão universal de startups com valuation bilionário (gráfico). Hoje, o país é o terceiro maior produtor de unicórnios do globo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
Em 2015, Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, anunciou o programa Startup India com o objetivo de estimular a inovação tecnológica e o crescimento econômico sustentável na região, além de gerar oportunidades de emprego em larga escala. A iniciativa deu resultado: em 2021, a Índia foi classificada como o 5° país mais amigável do mundo para startups em uma pesquisa realizada pela revista CEOWORLD. A análise levou em conta cinco fatores: infraestrutura empresarial, pesquisa e desenvolvimento, investimento em capital humano, força de trabalho técnica e flexibilidade de políticas públicas.
Por fim, um estudo publicado pela Harvard Growth Lab em julho ainda aponta que a economia do subcontinente está entre as que mais deverão crescer até 2030. De acordo com especialistas, a Índia, junto com a China, terá inclusive ultrapassado os Estados Unidos como o centro de inovação tecnológica do mundo até 2035 (Bloomberg).
Uni Cards
Fundação: 2020
Setor: meios de pagamento
Estágio: série A
Investimento total recebido: US$ 94 mi
Valuation (dez 2021): US$ 357 mi
Sede: Bangalore, Índia
Segundo a companhia americana Allied Market Research, o mercado mundial de cartões de crédito irá valer US$ 263 bilhões até 2028, com um CAGR de 8,5%. Atualmente, a população da Índia está em torno de 1,4 bilhão de habitantes. No entanto, apenas 35-40 milhões de indianos possuem cartão de crédito. Assim é que existe um oceano azul para as startups de finanças nessa área.
Uma delas é a Uni Cards, de Bangalore. O principal produto da fintech é o Pay 1/3rd Card, lançado em junho como o primeiro cartão no modelo buy now, pay later (espécie de versão digital do tradicional crediário brasileiro) da Índia. O serviço permite que os usuários parcelem compras em até três vezes sem juros. Caso paguem as três prestações de uma vez só, ganham 1% de reembolso.
A startup já participou de três rodadas de investimento e também atraiu um “empréstimo de risco”, ou venture debt. Atualmente, a companhia está avaliada em US$ 357 milhões.
jun 2022: venture debt de US$ 6,4 mi - Stride Ventures
dez 2021: série A de US$ 75 mi - General Catalyst Partners, Sparkle Fund e outros
out 2021: seed de US$ 18,7 mi - Lightspeed Venture Partners, Accel e outros
fev 2021: seed de US$ 316 mil - Sparkle Fund e Lazr Ventures
Pra ficar de olho
Um relatório divulgado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mostrou que, em 2022, as startups brasileiras arrecadaram R$ 210 milhões em rodadas de equity crowdfunding, a “vaquinha” dos investidores de risco. O valor é 62% maior do acumulado em 2021.
Uma pesquisa da consultoria global EY que ouviu mais de mil profissionais revelou que 99% dos investidores levam em conta as divulgações ESG (governança ambiental, social e corporativa) das empresas na hora de tomar uma decisão de investimento.