[#2] Valuations em queda devem elevar M&As em 2023
QUINTA-FEIRA • 26 de janeiro de 2023
No início deste mês, a montadora Stellantis dobrou a aposta na Archer Aviation e anunciou um segundo investimento na startup de aviação do Vale do Silício, este de US$ 150 milhões. O objetivo da parceria é construir o Midnight, carro elétrico voador projetado com espaço para quatro passageiros e um piloto.
No entanto, a Archer não é a única que está desenvolvendo esse tipo de aeronave. Fabricantes como Toyota, Porsche, Hyundai, Honda e Mercedes-Benz também têm planos de criar os seus próprios modelos de eVTOL (electric vertical take-off and landing), o nome técnico dos veículos.
Aqui no Brasil, a Eve Air Urban Mobility recebeu R$ 490 milhões do BNDES para fabricar um eVTOL e comercializá-lo até 2026. Com 2.000 unidades já encomendadas, o carro terá capacidade para quatro passageiros e autonomia de cem quilômetros.
O futuro já chegou.
Bom dia!
Esta é a sua News de Venture Capital hoje:
O VC em dados: queda no preço das startups deve aumentar n° de M&As em 2023
Media/space for equity: em vez de dinheiro, marketing/escritório em troca de equity
Cassio Azevedo: investidor acredita que ainda deverão ocorrer correções de preços
Leia em 3min21
O VC em dados
Nos últimos anos, o valor de mercado das startups brasileiras aumentou significativamente, principalmente o daquelas em estágios mais iniciais de desenvolvimento. Os motivos por trás desse aumento, bem como a própria acurácia dos valuations, têm sido bastante discutidos entre os especialistas.
De fato, a precificação de uma startup leva em conta análises subjetivas a respeito dos seus fundadores e quadro de funcionários, o que pode acarretar em números um tanto inflados. A avaliação dessas empresas ainda é definida muito de acordo com o seu potencial de crescimento, e não segundo sua real capacidade de gerar resultados concretos no presente. Com o recente amadurecimento do ecossistema nacional de inovação, é natural que as expectativas dos investidores quanto ao futuro do mercado estivessem mais altas.
Aliás, outro fator que contribuiu com essa tendência foi o “boom” de novos investidores, que teve início em 2017 e que provocou uma acirrada competição pelas nossas startups mais promissoras. Hoje, os fundos de investimento brasileiros concorrem com grandes gestoras globais, com caixa para realizar investimentos muito mais robustos. Assim é que os primeiros, em clara desvantagem competitiva, ofereceram valuations maiores aos empreendedores como forma de investir nas melhores startups.
Pois bem: em 2022, após um ano de recorde nos valores investidos em companhias tech no Brasil, muitas daquelas expectativas criadas em torno da indústria nacional de tecnologia acabaram frustradas. A realidade se impôs na forma de demissões, correção de preços e até mesmo falências (caso da fintech Hash, por exemplo). Isto posto, a tendência é que a redução no valor das startups aumente o número de aquisições em nosso país em 2023.
Marketing/escritório em troca de participação acionária
Exposição publicitária em troca de ações em uma startup. Ou seja: media for equity.
Segundo Ricardo Marques, sócio do GDB Ventures, investir em campanhas de marketing bem trabalhadas é fundamental para que uma startup seja reconhecida e consiga provar seu modelo de negócio. No entanto, publicidade custa caro e precisa gerar retorno imediato, já que a maioria das novas empresas tech não tem muito fôlego financeiro.
Assim é que o Global Data Bank, companhia de mídia e privacidade digital presente em doze países (no Brasil desde 2014), lançou o GDB Ventures um ano atrás para investir de R$ 1 a R$ 20 milhões nas operações de marketing das startups apoiadas pelo fundo.
Quem também está tirando proveito do media for equity são os influenciadores digitais, muitos com audiência na casa dos milhões de espectadores/ouvintes. No Brasil, o caso mais badalado foi o da parceria entre o Nubank e a cantora Anitta, que trocou sua imagem por uma cadeira no conselho do banco (em vez de uma participação acionária).
Mas não é só propaganda que pode ser oferecida como moeda de troca no mercado privado de ações. Em julho, a startup de coworking Flowork estreou o FlowVentures, fundo com modelo de investimento conhecido como space for equity. Além de receber um aporte financeiro entre R$ 100 e R$ 500 mil, as startups selecionadas pelo projeto ainda ocupam um cantinho nos escritórios da Flow, que contam com um total de 1,6 mil posições de trabalho disponíveis espalhadas entre duas unidades em Curitiba e uma em Porto Alegre.
Entre as techs apoiadas pelo FlowVentures, estão a COPE Soluções, de serviços de gestão digital das áreas financeira, tributária, administrativa e contábil; e a Pet Shop Control, dona de uma plataforma SaaS para o gerenciamento de pet shops.
Apesar desses exemplos, tanto o media quanto o space for equity estão apenas engatinhando em nosso país. Porém, eles mostram que existe uma brecha a ser explorada pelos gestores de venture capital – e que nem só de dinheiro vivem as startups.
"Ainda há espaço para correção nos valuations"
Cassio Azevedo é investidor de risco com passagem recente pela Astella Investimentos, uma das maiores casas de venture capital do Brasil. Ele compartilhou com o Distrito as suas expectativas para o nosso mercado de capital de risco nesse ano de 2023:
Muitos analistas acreditam que ainda existe um “inchaço” nos valuations das nossas startups. Você concorda com esse diagnóstico – o pior ainda está por vir ou já chegamos no fim do ciclo de correções e início da estabilização do mercado de venture capital?
O mercado de venture capital está tendo uma remarcação a mercado mais lenta do que o esperado, em um cenário de claro ajuste de expectativas no mercado público, devido ao aumento do custo do dinheiro ao redor do mundo. Essa relação é importante, porque os IPOs foram responsáveis por aproximadamente 90% do valor de saída criado na indústria global de capital de risco.
No Brasil, a maior parte do valor dos exits é por meio da venda para players estratégicos, que, naturalmente, se ajustam mais rapidamente ao contexto macro desfavorável. Logo, ainda tem espaço para ajustes para baixo nas expectativas e valuations do mercado privado, sendo menos impactado o early e mais o late stage.
A maior parte do debate em torno do venture capital está concentrada nas captações das startups. Porém, pouco se sabe sobre o estado dos fundos nesse quesito. Existe uma preocupação por parte dos fundos quanto ao cenário de captação?
O aumento de juros está acontecendo de maneira simultânea ao redor do mundo, o que acarreta em um maior custo de oportunidade para todos os produtos financeiros. Com o venture capital não é diferente. Então, todos os fundos, novos e antigos, devem estar tendo dificuldade de captação.
No Brasil, sinto que a situação pode ser ainda mais adversa: o aumento de juros em reais foi mais agressivo, em linha com nossa inflação mais complexa. Logo, nosso custo de oportunidade é muito alto. Os investidores institucionais ainda estão aprendendo sobre a classe de ativos de venture capital.
Pra ficar de olho
• Fisher: a fábrica de startups
Desde 2017, a Fisher já fundou seis startups a partir do zero, inclusive selecionando os melhores profissionais para compor o quadro societário das novas empresas. O objetivo da venture builder está em construir times de excelência, reduzindo os atritos e desentendimentos entre os fundadores.
Diogo Catão, CEO da Dome Ventures, escreveu um artigo para o portal Startups sobre o que um investidor deve considerar ao apostar em startups em 2023. O texto tem como foco os investimentos early-stage, considerados os de maior risco na trilha do venture capital.
• Sobre construir negócios reais
Em um texto para a Forbes, a investidora Camila Farani faz uma crítica ao que chama de “cultura do dinheiro rápido e fácil”, que, segundo ela, tomou conta dos ecossistemas de inovação brasileiro e global nos últimos anos. Farani ressalta o “empreendedor raiz”, aquele focado em construir negócios que solucionam problemas reais do mercado.