[#1] Como as wealthtechs estão mudando o mundo dos investimentos
QUINTA-FEIRA • 12 de janeiro de 2023
Mal começou o ano, a SpaceX confirmou a abertura de uma rodada de investimentos para arrecadar US$ 750 milhões. A companhia de foguetes e internet via satélite de Elon Musk ainda informou que a Andreessen Horowitz irá provavelmente liderar o novo financiamento. O aporte deverá elevar o valor de mercado da empresa para US$ 137 bilhões.
Preparar para a decolagem.
Bom dia!
Esta é a sua News de Venture Capital hoje:
O VC em dados: os valores investidos em startups no Brasil ano a ano (2017-2022)
Wealthtechs: startups estão democratizando os investimentos alternativos nos EUA
Carolina Strobel: sócia da Antler fala sobre o futuro do venture capital no Brasil
Leia em 2min36
O VC em dados
De acordo com a investidora Carolina Strobel (leia entrevista abaixo), 2022 não foi o ano do “inverno do venture capital”. Para ela, a desvalorização das empresas de tecnologia nos últimos doze meses é natural se considerarmos o aumento da inflação e dos juros. Esses fatores teriam levado os investidores de risco a adotar critérios mais rigorosos na hora de fechar negócio com uma startup. Os investimentos diminuíram e o valor das nossas techs foram sendo corrigidos aos poucos conforme o seu potencial real de gerar resultados concretos no futuro.
Em 2022, os valores aplicados nas empresas de tecnologia brasileiras ainda foram consideravelmente maiores do que os de qualquer outro ano anterior a 2021 👇
Wealthtechs democratizam ativos de risco nos EUA
Juros altos, inflação subindo, ações que não empolgam. Na esteira de uma economia global assim pressionada, ganham cada vez mais força os chamados investimentos alternativos, que vão desde vinho e arte até o nosso tradicional venture capital. De acordo com previsões da companhia inglesa de dados Preqin, os ativos alternativos sob gestão de instituições financeiras deverão chegar a US$ 23 trilhões até 2026 (eram US$ 13 trilhões em 2021).
Ocorre que, se antes essas alternativas estavam disponíveis apenas para investidores institucionais, agora elas também começam a entrar no radar de gestores de patrimônio, consultores e inclusive do consumidor comum. Isso graças à ascensão das wealthtechs, plataformas de investimento online que estão democratizando o acesso às mais variadas opções de ativos de risco. Em 2021, cerca de US$ 19 bilhões foram aplicados em startups da categoria nos Estados Unidos, quase o triplo do visto em 2020 (CB Insights).
Tamanha é a força que as wealthtechs ganharam lá fora, que alguns dos maiores colossos da indústria financeira mundial estão apostando suas fichas nelas. A iCapital Network, por exemplo, já amealhou US$ 729 milhões de gigantes como Blackstone, JP Morgan e BlackRock. Fundada em 2013 em Nova York, a iCapital hospeda mais de mil fundos de investimentos alternativos em sua plataforma, dos quais muitos pertencem às próprias megaempresas de gestão que adquiriram uma participação na startup.
Em 2021, a Public (Nova York) concluiu uma rodada de US$ 220 milhões em que participaram Accel e Tiger Global. A wealthtech de série D permite que qualquer pessoa invista em itens colecionáveis, criptoativos, direitos autorais de músicas e NFTs. Mais modesta, mas igualmente inovadora, a Alto IRA (Nashville) oferece contas de aposentadoria com opções de aplicação em fundos de capital de risco, startups, mercado imobiliário, entre outras. A empresa já arrecadou US$ 74 milhões de mais de vinte investidores diferentes.
Pois bem: a abertura do mercado privado de investimentos alternativos para o grande público deverá criar uma nova economia com valor na casa das centenas de bilhões de dólares nos EUA. Também fornecerá às pessoas físicas a oportunidade de aplicar dinheiro fora do mercado público de ações*. Por fim, essa abertura ainda tem tudo para revolucionar o modo como as pessoas investem na aposentadoria.
* No primeiro semestre de 2022, as famílias americanas perderam US$ 9 trilhões no mercado público de ações e títulos (CB Insights)
O que esperar do venture capital no Brasil em 2023
Carolina Strobel tem mais de vinte anos de experiência em investimentos em tecnologia, construção de negócios e projetos de transformação digital. Já foi sócia operacional da Redpoint eventures, diretora da Intel Capital LATAM e diretora de inovação em empresas de capital aberto. Atualmente, ela é sócia da Antler, firma de venture capital com escritórios em 25 cidades ao redor do mundo, Nova York, Londres, Berlim, Tóquio e Sydney entre elas. Desde 2018, a companhia investiu em mais de seiscentas empresas de fundadores de cerca de oitenta nacionalidades diferentes.
Strobel falou ao Distrito sobre o que esperar dos investimentos de risco no Brasil em 2023:
Dois mil e vinte e dois ficou conhecido como o ano do “inverno do venture capital”, muito por causa da retração dos investimentos de risco em relação a 2021. Como você enxerga o andamento desse mercado no último ano?
Venture capital é uma indústria cíclica, e esta não é a primeira vez em que presenciamos uma desaceleração dos investimentos. Tendo em vista a inflação e as taxas de juros altas no mundo de hoje, essa desvalorização das empresas de tecnologia é natural.
Mas a indústria do capital de risco não parou. Os acordos continuaram acontecendo, só que com correções nos valuations e maior foco em questões financeiras. Isso pôde ser bem observado nas companhias late-stage, que precisaram reajustar suas rotas através de demissões e mais equilíbrio ao gastar o dinheiro das últimas rodadas de captação.
Os fundos de venture capital passaram a ser mais cobrados pelos investidores e precisaram aumentar a rigidez na hora de selecionar as startups. Ou seja, os gestores voltaram a levar em conta aqueles elementos mais básicos das empresas, como o burn rate e o runway.
De maneira geral, e no longo prazo, acho esses ajustes de valuations benéficos e saudáveis para o ecossistema.
Quais as suas expectativas para o mercado de venture capital em 2023?
Ao contrário do que se diz por aí, não estamos vivendo uma “bolha” do venture capital. Estamos vivendo um momento de reajuste do mercado, com revisão dos modelos de negócio das empresas e uma maior análise dos seus componentes financeiros. É uma maior cautela nos investimentos. Esse momento não é nada comparado com o que aconteceu na bolha das pontocom, no início dos anos 2.000.
Digo isso porque 2022 foi certamente um ano turbulento para as startups e os empreendedores. No entanto, esses são os períodos que deixam claro quem tem controle das finanças e possui um modelo de negócios rentável.
Sendo assim, parece que 2023 será um ano importante para os fundos de venture capital. Acredito que o mercado já sabe o que esperar dos fundos quanto ao método dos investimentos. Não creio que haverá uma mudança de rumos tão cedo.
A indústria continuará olhando para métricas financeiras e de estabilidade dos negócios. Com relação ao volume dos investimentos, é difícil dizer se ele será igual ao que era antes da pandemia ou se será semelhante ao que vimos em 2021.
O que dá para dizer é que, de um lado, as empresas já estarão com valuations mais ajustados, o que permitirá análises mais precisas dos fundos; do outro lado, a perspectiva de políticas públicas populares deverá viabilizar um mercado de mais abundância, que por sua vez financiará um número mais elevado de usuários.
Dois mil e vinte e três será o momento de aproveitar para construir e investir em novas empresas. É assim que iremos fomentar a inovação no Brasil e criar novos empregos. Costumo dizer para os investidores que dinheiro para no banco não faz a economia girar. É preciso aplicar o capital nessa nova geração de techs, que estão resolvendo os principais gargalos do nosso país.
Pra ficar de olho
João Kepler é CEO da Bossanova Investimentos, a casa de venture capital com o maior número de acordos assinados na América Latina em 2022. Ele escreveu um artigo para a revista Exame relatando as suas perspectivas para o capital de risco neste novo ano.
• -35% em investimentos em 2022
Em 2022, os valores investidos em startups mundialmente diminuíram 35% em relação a 2021. No entanto, os números do último ano ainda são significativamente maiores do que os de 2020.
• Para entender o Media for Equity
Em vez de dinheiro, exposição publicitária como moeda de troca por uma participação acionária. Ou seja: media for equity. Neste artigo, o empreendedor Allan Costa explica como funciona a prática, que, aos poucos, começa a ganhar espaço aqui no Brasil.